A Lavradores de Feitoria é uma espécie de quadratura do círculo: a sua missão inclui a sua própria contradição. Tenta resolver a oposição entre o individual e o colectivo. Procura o equilíbrio entre a grande venda e a qualidade do singular. Esforça-se por recompensar os produtores e todos tratar com igualdade, mas premeia os que fazem melhor. Dá total liberdade aos seus membros e accionistas, mas estabelece regras de qualidade, cultivo e produção que importa cumprir. Faz vinhos de lote e pretende também fazer vinhos de quinta. A alma pertence aos lavradores, mas a energia é dos accionistas. Todos estão interessados simultaneamente na produção e no comércio. Os lavradores vêm das três sub-regiões do Douro, retirando o melhor de cada uma, em vez de as separar pelas diferenças. Tem-se a impressão de que a Lavradores de Feitoria fez uma lista das contradições clássicas no Douro vinhateiro e procurou, não ignorá-las, mas viver com elas e resolvê-las pelo equilíbrio.
São 15 lavradores, que também são comerciantes. São 19 as quintas que fazem parte da empresa, sendo que vêm do Baixo Corgo, do Cima Corgo e do Douro Superior. Começaram por ser 24 os accionistas, com os lavradores em maioria, são agora 48, mas em direitos de voto os lavradores são a força dominante. Formam seguramente um dos mais interessantes grupos de produtores do país, uma das principais inovações na região demarcada no Portugal vinhateiro. Parecia fácil fazer o que estes fizeram: na verdade era tão difícil que nunca se fez. Pela primeira vez, em liberdade, sem imposição, tentaram alguns durienses conjugar o que de melhor há no individual e no colectivo, ou no singular e na associação. Foram quinze anos inesquecíveis de esforço. A pedir por outros tantos.
António Barreto